Tornar as Notícias de TV em Moçambique Acessíveis Para Todos

Equipa da TV Surdo fazendo entrevista para os seus programas de transmissão em directo, iniciados na televisão nacional em meados de Fevereiro. / IREX

Como um homem surdo criou a estação TV Surdo para incluir a linguagem de sinais em toda a programação

 

Como um homem surdo criou a estação TV Surdo
O sonho de Sousa Camanguira, de um canal de TV que atende às necessidades da comunidade surda tornou-se realidade. Foto: Beatriz Majope, IREX

Em Moçambique, os canais de TV tradicionais não apresentam informações num formato acessível para os surdos. Para os surdos, como Sousa Camanguira, isso não só faz com que se sintam excluídos e marginalizados, como também coloca em risco a sua capacidade de aceder a todas as informações em bases iguais aos demais.

Sousa queria garantir que a comunidade surda em Moçambique tivesse a mesma oportunidade de acesso à informação que a comunidade de ouvintes – por isso, criou a TV Surdo, com o apoio da USAID, uma estação que inclui linguagem de sinais em toda a programação.

“Eu não quero que as minhas filhas passem pelo que eu passei”, disse ele.

As famílias de pessoas surdas em Moçambique nem sempre conhecem a língua dos sinais moçambicana.

A ver televisão com a mãe, Sousa lembra que “os ouvintes ouvem piadas e começam a rir. Nós, os surdos, não rimos. Quando perguntamos aos outros do que eles estão a rir, eles apenas dizem: “Espere, vamos explicar depois”. Ficamos sem informação, e isso é um desencorajamento.”

Apoiar plataformas de media para disponibilizar informação para todos

Como um homem surdo criou a estação TV Surdo
Equipa da TV Surdo fazendo entrevista para os seus programas de transmissão em directo, iniciados na televisão nacional em meados de Fevereiro. / IREX

A viver na cidade capital Maputo, Sousa nasceu ouvindo, mas depois de sofrer de meningite, perdeu a audição aos 5 anos de idade.

Quando ele tinha 6 anos, começou a frequentar uma escola para surdos, mas só soube que era surdo aos 12 anos, quando percebeu que usava um aparelho auditivo.

“Ninguém me disse nada”, disse Sousa, em relação aos seus pais e professores. “Eu cresci ouvindo pessoas, brincando com elas. Eu só descobri [que eu era surdo] quando perguntei o que era o aparelho auditivo que eles me deram. Entretanto, continuei a comportar-me normalmente, porque sou normal ”.

Sousa começou a trabalhar no conceito da TV Surdo em 2008, aos 30 anos de idade. Embora ele tivesse o apoio de muitas instituições, foi através do IREX – Programa de Fortalecimento da Media de Moçambique, financiado pela USAID, que o seu sonho se tornou realidade. O programa apoia profissionais moçambicanos e jornalistas comunitários e as suas plataformas de média na divulgação de informação de alta qualidade aos cidadãos, promovendo ao mesmo tempo, a responsabilização e o desenvolvimento.

Como um homem surdo criou a estação TV Surdo
Equipa da TV Surdo fazendo entrevista para os seus programas de transmissão em directo, iniciados na televisão nacional em meados de Fevereiro. Foto: IREX

“Queríamos que as pessoas entendessem que nós, apesar de surdos, podemos praticar as mesmas actividades que as pessoas com audição e até mesmo contribuir para o desenvolvimento do país”, disse Sousa, que também é director geral da TV Surdo.

Antes do programa de formação da IREX, o pequeno grupo de profissionais de jornalismo da TV Surdo – que se conhecia da comunidade surda – não tinha experiência com computadores, edição de vídeos ou escrita de roteiros. Agora, eles dizem estar confiantes para trabalhar de forma independente.

Em Fevereiro de 2017, a TV Surdo começou oficialmente a transmitir o seu programa de notícias semanal através do maior grupo de média independente em Moçambique. As histórias cobrem todos os tópicos da grande media, mas também se concentram em assuntos de interesse particular para a comunidade surda.

Criando um ambiente inclusivo

Como um homem surdo criou a estação TV Surdo
A reportagem da TV Surdo fornece à comunidade surda as notícias e informações necessárias para que se sintam parte da sociedade – até reportando sobre futebol. Foto: Graham Dickie, IREX

O filho mais novo de Sousa, que tem 4 anos ouve, comunica muito bem na linguagem de sinais moçambicana, em parte devido à observação dos programas na TV Surdo. Sousa chama-o de “o pequeno intérprete” que facilita a comunicação entre eles e o resto da família que pode ouvir.

Com a ajuda do filho, Sousa diz que suas filhas não sofrem mais com problemas de comunicação.

Como um homem surdo criou a estação TV Surdo
As entrevistas de Lizete Vieira para a TV Surdo são para, os espectadores surdos, uma vital fonte de informação sobre eventos em Moçambique. Foto: Beatriz Majope, IREX

O objectivo de Sousa para a TV Surdo é ter uma media tradicional totalmente acessível a pessoas surdas em todas as províncias de Moçambique, para que elas possam entender melhor o mundo e ser informadas como todos os outros. Ele também espera continuar a ter muitos espectadores, surdos e ouvintes, para que eles possam aprender a língua de sinais e ajudar a criar uma sociedade mais inclusiva em todo o país.

Em Moçambique, a USAID trabalha para promover a diversidade e a inclusão de pessoas com deficiência, como Sousa, em todos os aspectos da vida, incluindo trabalho, educação, participação democrática e empreendedorismo.

A USAID está comprometida com o desenvolvimento inclusivo da deficiência que capacita mais de 1 bilhão de pessoas, ou cerca de 15% da população mundial, vivendo com alguma forma de deficiência. As sociedades que incluem as suas diversas populações são mais propensas a serem democráticas, participativas e equitativas.