“Oficiais da Tosse” ajudam a melhorar resposta à Tuberculose em Moçambique

Uma iniciativa de controlo da Tuberculose em ambiente hospitalar está a melhorar a capacidade de resposta à doença em Moçambique, um dos 20 países mais afectados pela epidemia a nível mundial.

Quando procurou apoio médico, João Jaime, 21 anos, sentia-se sem energia e apetite, “muito doente”. Na sala de espera do Centro de Saúde de Marracuene, província de Maputo, foi abordado por Ali Eduardo Tembe, Oficial da Tosse, que rapidamente o encaminhou para os serviços de despistagem de Tuberculose (TB). Jaime, que nasceu com HIV, tinha sido iniciado na terapia antirretroviral cinco anos antes, mas não tomava a medicação com a devida regularidade.

“O meu tio levou-me ao hospital e foi quando o Ali me encontrou. Deram-me uns frascos para recolher amostras de expectoração, que depois de analisarem viram que era TB. Mais tarde, perceberam que era Tuberculose Multi-Resistente (TB-MR) ”, recorda o jovem. Seis meses de internamento hospitalar e uma vontade extraordinária de viver trouxeram-no de volta a casa para junto da sua família, onde continua a recuperar. João sente-se grato por ter sido encontrado por um Oficial da Tosse.

Contando com o apoio financeiro e técnico do Plano de Emergência do Presidente dos Estados Unidos para o Alívio do SIDA (PEPFAR), o programa “Oficial da Tosse” do Ministério da Saúde de Moçambique foi lançado simbolicamente em 24 de Março de 2016, Dia Mundial da Tuberculose.

Na África Subsariana, a TB é uma das principais ameaças de saúde pública, e em Moçambique a situação não é diferente. Estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS) referentes a 2015 apontam para que 154 mil casos tenham ocorrido no país nesse ano, mas menos de 62 mil foram diagnosticados. Isto significa que em cada 10 casos, seis não foram descobertos e, por isso, tratados.

À semelhança de outros países com uma epidemia generalizada de HIV, em Moçambique a Tuberculose afecta de forma desproporcional as pessoas que vivem com HIV/SIDA (PVHS) – um em cada dois novos casos – e é a principal causa de morte entre este grupo da população. Dados da OMS mostram que ocorreram 54 mil mortes associadas à Tuberculose (2015), tendo mais de 60% dos óbitos sido registados entre PVHS. Eliminar as novas infecções por TB entre as PVHS é, por isso, uma prioridade para o PEPFAR, que apoia diversas iniciativas de prevenção e de controlo da doença, como o programa “Oficial da Tosse”.

Orientado para uma resposta efectiva à TB em ambiente hospitalar, o programa baseia-se na acção de indivíduos treinados para identificar casos suspeitos à entrada dos serviços de saúde, garantindo um acompanhamento médico adequado, e a diminuição das hipóteses de novas infecções entre utentes e provedores de saúde.

“O papel do Oficial da Tosse é muito importante, porque os médicos e os técnicos de medicina não estão do lado de fora, onde os doentes estão. Eles estão nos gabinetes à espera que os doentes entrem, e nunca sabem qual é a condição do paciente”, explica Zacarias Chissequere,
Supervisor do Programa de TB da Direcção Provincial de Saúde (DPS) de Maputo, responsável por uma das sete províncias onde o programa foi lançado.

Antes de começar a trabalhar como Oficial da Tosse, Ali Eduardo Tembe recebeu uma formação intensiva de curta duração durante a qual aprendeu “os sintomas e as formas de prevenção e de transmissão da TB”. O seu dia-a-dia no Centro de Saúde de Marracuene começa ao início da manhã com uma palestra educativa dirigida aos utentes que aguardam na sala de espera. É nesta altura que ele procura identificar possíveis sinais de infecção por TB nos pacientes.

“Controlo os pacientes para ver se eles estão a tossir. Falo também com as pessoas que têm febre prolongada, que têm suores durante a noite, que têm falta de apetite ou perda de peso”, diz o Oficial da Tosse, acrescentando que encaminha os utentes que identifica para uma área ao ar-livre onde eles aguardam em segurança a sua vez de atendimento nos serviços de despistagem de TB.

Zacarias Chissequere explica que “nem todos os pacientes procuram as unidades sanitárias porque estão com tosse”. Por esta razão, o trabalho do Oficial da Tosse “assegura que não se perdem oportunidades de detectar novos casos nas unidades sanitárias”, reduzindo, além disso, o “risco acrescido de contrair TB” a que estão sujeitos os profissionais de saúde.

Além do apoio à detecção de casos de TB, o programa contribui para a divulgação de informação sobre a doença a todos os utentes que procuram as unidades sanitárias, o que é particularmente importante considerando o baixo nível de literacia em saúde da população moçambicana.

“Sinto que falta informação para o programa de TB: a comunidade precisa de saber exactamente o que é a TB. Todos têm alguma ideia, porque é uma doença muito antiga, mas a informação que leva as pessoas a procurar as unidades sanitárias ainda é escassa” sublinha o Supervisor do Programa de Tuberculose da DPS-Maputo.

Ao longo do primeiro ano de implementação da iniciativa, as palestras dos quase 150 oficiais da tosse que trabalham no programa chegaram a 100 mil utentes. Além disso, o seu trabalho permitiu a identificação de mais de 17 mil casos suspeitos de infecção por TB. Entre estes, encontra-se o caso confirmado de TB-MR de Jaime João.

“Peço para as pessoas tratarem a TB e não deixarem de tomar os medicamentos, porque a TB tem cura”, apela o jovem.