O sol brilha intensamente, mas a temperatura é amena no povoado de Ngomai, distrito de Gondola, província de Manica, no Centro de Moçambique. Ouve-se, no meio da área rural, o som amplificado de uma música popular do país, apesar de não haver corrente eléctrica da rede nacional na região. O pequeno rádio funciona através da energia do painel solar instalado na banca por Elias Jornal Matica, de 30 anos.
Elias nem sempre está presente na sua banca, pois os clientes são escassos. É nestes intervalos em que faltam compradores, que ele aproveita para cuidar da sua pequena machamba, onde produz essencialmente, cereais.
“Há 5 anos que faço este negócio. Percorro 24 quilómetros para a cidade de Chimoio onde compro os produtos. Não tenho uma receita fixa, porque o movimento varia, mas dá para sobreviver, sobretudo porque também tenho machamba”, conta Elias.
Enquanto conversávamos com Elias, a sua esposa, Isabel Joaquim, e a sua filha, Rosária Elias, aproximaram-se do local, onde receberam, com entusiasmo, a madrinha da criança – Alice Rosa.
“A minha esposa sentiu-se mal e foi ao hospital, onde foi atendida pela mana Alice. Ela aconselhou-a a fazer o teste do HIV, ao que ela aceitou. O resultado do teste do HIV foi positivo. Em seguida, a mana Alice convidou-me para também ser testado, e o meu resultado também foi positivo. No mesmo mês, começamos a tomar os medicamentos do HIV”, contou Elias, lembrando episódios que tiveram lugar em 2020.
Com a adesão ao Tratamento Antirretroviral (TARV), Isabel Joaquim passou a se sentir melhor, e Elias nunca sequer sentiu-se doente. Mas as mudanças na família foram ainda maiores.
“Nós tínhamos dificuldades de conceber. Procuramos por várias formas, inclusive nos curandeiros, por uma solução para o nosso problema, mas não conseguíamos. Mas no mesmo mês em que começamos o tratamento antirretroviral, a minha esposa ficou grávida. É por isso que a mana Alice é muito especial para nós, ela resolveu os nossos problemas”, conta o comerciante.
“Eu recebi o casal e os aconselhei a aderirem ao tratamento antirretroviral. Expliquei que se eles estivessem bem de saúde, tinham mais chances de conseguirem conceber e ter um filho saudável. Graças a Deus, quando eles começaram o tratamento, a gravidez apareceu”, contou Alice, que diz ter tantas outras afilhadas e amigos nas comunidades, como resultado do seu trabalho no centro de saúde e da relação que desenvolve com os utentes.
Alice Rosa (mana Alice) é Conselheira de Saúde desde 2016, e trabalha no Centro de Saúde Militar de Chimoio. Dentre vários serviços, o dispõe dos Serviços de Tratamento Antirretroviral (S-TARV).
O Centro de Saúde Militar de Chimoio conta com 1,500 pacientes em TARV, a maior parte dos quais estão em supressão viral. Em Moçambique, o Plano de Emergência do Presidente dos E.U.A para o Alívio da SIDA (PEPFAR), do Governo dos Estados Unidos, fornece os fundos através do Departamento de Defesa dos Estados Unidos e o parceiro clínico JHPIEGO para apoiar cerca de 25 unidades sanitárias das Forças de Defesa e Segurança de Moçambique (FDS) que oferecem o Serviço-TARV, e conta com cerca de 30,000 pacientes em tratamento antirretroviral, dos quais quase todos estão em supressão viral.
Esta iniciativa tem impactado positivamente no aumento de pacientes HIV+ que iniciam TARV e especialmente de mulheres gravidas seropositivas em TARV, reduzindo o risco de transmissão de HIV de mãe para filho. A iniciativa também possibilitou a contratação de 90 conselheiros que prestam um valioso contributo no programa de saúde através da oferta de serviços de testagem aos utentes, oferta de serviços de aconselhamento para reforço de adesão, apadrinhamento de pacientes, busca activa de pacientes que interrompem o tratamento e servem como ponto de contacto com os diversos pacientes em tratamento.
O casal agora recebe seus medicamentos do HIV trimestralmente, e leva uma vida normal. A filha já fez dois testes de (testes de HIV para crianças) e o resultado foi negativo para o HIV.
As unidades sanitárias militares fornecem diversas opções de cuidados para ajustar o tratamento ao estilo e forma de vida do paciente e facilitar o processo de maneio da doença crónica. Uma das opções é a dispensa trimestral de medicamentos (TARV) que permite que o paciente vá de 3 em 3 meses à unidade sanitária. O Centro de Saúde Militar de Chimoio tem cerca de 78% dos pacientes elegíveis em Dispensa Trimestral. A nível nacional o percetual de pacientes em dispensa trimestral é de 91%.
“A minha filha é saudável. Eu gostaria que ela fosse médica quando crescer, para ajudar a salvar vidas”, projecta Elias.
O Elias e a sua família fazem parte das cerca de 1 700 000 (um milhão e setecentas mil) pessoas em tratamento do HIV em Moçambique, e em especial do subgrupo que leva uma vida normal e produtiva graças à adesão consistente ao tratamento. O Governo dos E.U.A. trabalha em estreita colaboração com o Governo de Moçambique, através dos Centros de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC), a Agência dos E.U.A. para o Desenvolvimento Internacional (USAID), o Departamento de Defesa dos E.U.A. (DOD), o Corpo da Paz, e vários parceiros com os fundos do PEPFAR na implementação do Plano Estratégico Nacional de Resposta ao HIV e SIDA a nível nacional, provincial, distrital, e comunitário, com o objectivo de controlar a epidemia do HIV até 2030.
